
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, os resultados obtidos na capital paulista são semelhantes aos apresentados em estudos internacionais, que apontam que entre 30% e 40% dos não-fumantes consomem monóxido de carbono da fumaça do cigarro cronicamente.
A Secretaria de Saúde fez o levantamento no ano passado e ouviu 1.310 não-fumantes em locais fechados e abertos. Além de responderem a um questionário específico, os participantes fizeram o teste do monoxímetro -aparelho que mede a concentração de monóxido de carbono no organismo.
Ar expirado. O teste é similar ao do bafômetro e avalia a quantidade da substância no ar expirado. O voluntário sopra em uma boqueira, e a concentração aparece no visor digital.
"É um teste muito fácil de ser aplicado. Todas as cidades deveriam ter esse equipamento, pois ele consegue apontar com eficiência a dependência do cigarro", afirma a psiquiatra Luizemir Lago, diretora do Cratod.
Segundo Lago, em não-fumantes, a concentração aceitável varia de zero a seis partes por milhão (ppm) porque é preciso considerar a poluição ambiental. Entre os fumantes leves, essa concentração varia de 6,1 ppm a 10 ppm; entre os fumantes moderados, o nível fica entre 10,1 ppm e 20 ppm e, entre os pesados, o valor oscila entre 20,1 ppm e 60 ppm.
Do total de avaliados, 18,32% tiveram resultado compatível com a concentração em fumantes leves, 15,27% dos testes apontaram resultados similares aos de fumantes moderados, e 2,29% indicaram níveis compatíveis com fumantes pesados. Os 64,12% restantes apresentaram níveis normais.
De acordo com o pneumologista Sérgio Ricardo Santos, coordenador do PrevFumo (ambulatório de controle do tabagismo) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), ao inalar a fumaça do cigarro, o fumante passivo joga diretamente para o pulmão o monóxido de carbono, que é absorvido e cai na corrente sanguínea.
Uma vez no sangue, ele se liga às moléculas de hemoglobina (responsáveis pelo transporte de oxigênio) e ocupa as áreas de ligação com o oxigênio. Com o tempo, o sangue perde a capacidade de transportar oxigênio, o que pode causar problemas cardiovasculares mais graves.
"O monóxido de carbono é vasoconstritor e pode provocar o fechamento dos vasos sanguíneos. Além disso, há menos irrigação sanguínea e há alteração do funcionamento dos órgãos. São os mesmos fenômenos observados nos fumantes", explica o pneumologista.
A cardiologista Jaqueline Scholz Issa, coordenadora do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor (Instituto do Coração), diz que já fez estudos semelhantes em São Paulo e constatou que mesmo quem sofre com a exposição contínua à poluição (como guardas de trânsito) não apresenta níveis tão elevados de monóxido de carbono no organismo.
"Os resultados são preocupantes porque mostram valores compatíveis com o organismo de quem fuma. O levantamento comprova que o tabagismo passivo não é inócuo e que essas pessoas estão expostas a riscos reais", afirma.
Segundo os especialistas, a única forma de se proteger desses danos provocados pelo cigarro é evitar frequentar lugares em que o fumo é permitido.
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